terça-feira, 20 de outubro de 2009

A calcinha e a bolsinha

Eu vi bolsinha de calcinha
calcinha de bolinha
bolinha da calcinha na bolsinha
a bolsinha da calcinha na bolinha.

Azul era a calcinha
de bolinha era a bolsinha.
Bolinha branca, como na calcinha
que era azul, como a bolsinha.

Da menina, a bolsinha.
Da mulher, a calcinha.
No azul, a bolinha.
Curiosidade a minha.

Eu vi calcinha e bolsinha
azul e de bolinha.

A menina, mostra a bolsinha.
A mulher, mostra a calcinha.
E eu vi bolsinha e calcinha.
com rendado rosa,
como o zíper da bolsinha.

E a menina, e a mulher,
desesperada, tão sozinha;

Guarda sonhos na bolsinha.
E desejos na calcinha.

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terça-feira, 6 de outubro de 2009

Anônimos

Fecharam a porta atrás de si. Enfim, estávamos a sós. Ela, deitada, segurava um lençol por sobre o corpo, e me olhava candidamente. Para mim, que de pé a contemplava, aquilo era uma afronta. Me parecia que ela insultava: "Qual é? A gente tá sozinho, no seu quarto, eu deitada na sua cama, segurando o seu lençol contra meu corpo...Tá esperando o quê?".

Eu tinha os copos e pratos sujos nas mãos. Os recolhia à cozinha. Na TV, os créditos do filme que assistimos ainda corriam; tão anônimos quanto nós, àquela hora do dia, sozinhos, no meu quarto. Pus os pratos na mesa, ao lado do computador. Não deixei de olhá-la nem um segundo. Eu parecia um predador, à espreita da caça, que ao avistá-la, olha-a nos olhos e diz: "Já era. Você é minha!". Num passo felino, aproximei-me dela. Deitei na cama. Minha mão tocou-lhe a face. Ela diz: "-Você bem sabe, eu gostaria muito. Mas hoje, não dá. Meu pai já está chegando.".

Não ligo para o que ela diz. Apenas fito sua boca, sua grande e tentadora boca, da carne tão vermelha e sedutora que me ludibriou durante toda a sessão caseira de cinema. "Sim, eu sei. Mas eu não me importo com seu pai. Só quero saber de você." Aproximo-me mais, e minha boca não resiste à dela. Num beijo tão molhado o quanto podia, o desejo apenas aumentava.

Ela segurava o pedaço de pano azul contra o corpo, como num ato de ainda resistir ao que sentia, ao que queria. Minha mão correu-lhe a nuca. Dei-lhe calafrios, fazendo minha outra mão subir e descer por sua espinha dorsal. Lambi sua orelha e suspirei em seu ouvido, fazendo-a largar enfim o lençol e me abraçar ferozmente. Pus minha mão por baixo da saia dela, em suas coxas, e vinha subindo devagar, quando o telefone tocou. "Eu atendo", ela disse. E saiu do quarto.

Grito em meu íntimo uns palavrões. "Que droga! Logo agora..."

Era seu pai. Estacionara na porta do meu prédio, e lhe aguardava. "Tenho de ir embora", ela me disse. Nos beijamos outra vez. Mais apaixonados do que antes, mais excitados do que nunca. Tão anônimos quanto qualquer um.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Seu vestido azul

Se o visse na vitrine, certamente o odiaria.
Jamais gostei dum tom daquele, aquele azul.
Quando te vi, primeira vez, talvez diria:
só me interesso a plena alma por teu nu.

Foi num forte dia de ventania, você, altiva, radiante, seduziu.
Tão distante da minha ironia, meus olhos, tenho fé, você não viu.

Pois não somente vi teus seios,
tua boca ou tuas coxas;
Vi-te toda, ao mesmo tempo que não vi:
Se há quem sinta emoção em ir pra cama (tirar a roupa),
ali senti a tentação de te vestir.

Sim, de te tirar daquele azul tão intrigante, e te pôr num amarelo ou encarnado.
Porque teu corpo, visto assim, num cintilante, não me atrai tanto quanto no azulado.


Se me amas, se me queres, pois me entenda: não há nada que precises mais fazer.
Vista aquele seu vestido azul, colado. Saia no vento, em meio tempo eu vou te ver.

De minha boca, soprarei aos teus ouvidos, desejando o corpo todo alcançar.
Numa soprada ver teu rosto, tão rosado. E teu vestido, tão azul, a levantar.

Pois de mim, não aguardeis, nem mesmo escrevas.
Eu não me julgo a atenção ser merecido.
Mas se eu te ver, naquele azul, azul vestido,
em meus sonhos, não mais serei o teu amigo:
mas aguardeis, pois sonharei ser teu marido.